Eu já considerei o Paulo Henrique Amorim um excelente jornalista: crítico, sensato, independente e comunicativo, apesar de um tanto tendencioso, principalmente quando se tratava de defender o governo Lula e o PT em geral. Mas, enquanto ele estava exercendo o papel de colunista, eu não podia criticar o fato dele defender suas posições, eu podia apenas concordar ou discordar delas.
Hoje ele possui um portal independente na internet, o Conversa Afiada, onde ele deixa clara sua posição política, o que também não é um problema, já que o portal é pessoal. Neste portal ele popularizou o termo PiG, repetido exaustivamente, onde classifica a grande imprensa de golpista:
"Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista."
O problema, é que ao criticar a "grande mídia", ele se esquece dos seus próprios pontos fracos. Hoje ele trabalha para a Rede Record, que pertence ao "bispo" Edir Macedo e à Igreja Universal (IURD). Mas, este não é o maior problema, afinal todos nós precisamos ganhar a vida. O problema, é que ele aceita realizar tarefas no seu emprego, como se fosse trabalho jornalístico, sem ser.
Em outubro de 2007 ele comandou uma reportagem para o programa dominical da Record, que chegou a me dar pena. Ele conduziu jornalisticamente uma matéria claramente encomendada pelo dono da empresa, o tal Edir Macedo. Eu não conheço muito de jornalismo, mas, essa reportagem deve ir contra qualquer manual básico da profissão: tratar matéria paga como se fosse notícia.
Na tal matéria, o bispo foi mostrado como vítima de perseguição por parte das autoridades porque passou 11 "terríveis" dias na cadeia e aproveitou para mostrar o seu livro em que contava as agruras sofridas neste episódio.
O Paulo Henrique cumpriu direitinho o papel que lhe cabia naquele informe publicitário disfarçado de matéria, eu percebi que em alguns momentos ele quase chegou às lágrimas com a "dramática" história do sujeito que há 15 anos, passou 11 dias na cadeia, foi tratado como manda a lei e aproveitou bem esse fato para fortalecer ainda mais a sua imagem junto aos fiéis.
Se o Paulo Henrique continuar assim, vai acabar sendo promovido pela Record pelos bons serviços prestados. A pena a qual eu me referi acima é por constatar que o jornalismo passou a ser apenas uma lembrança distante na sua carreira.
Posteriormente, em 2008, o Sr. Paulo Henrique Amorim teve o seu contrato com o portal IG rescindido e saiu atirando para todos os lados, criticando sem dó o IG e todos que tivessem algum tipo de relacionamento com o portal.
Eu concordo que o IG agiu de forma pouco ética na rescisão do contrato dele. A rescisão deveria ter sido comunicada com mais antecedência e os seus leitores deveriam ter sido informados sobre o novo local de hospedagem do blog. Contudo, eu acho que o assunto foi tratado de maneira equivocada pelo jornalista e pela maioria das pessoas que opinaram sobre o assunto:
- O fato não se tratou de uma demissão, afinal o Paulo Henrique não era empregado do IG, tinha um contrato de hospedagem do seu site;
- Também não se tratou de censura, o IG simplesmente não concordou com a sua postura, seja por razões comerciais ou políticas, e resolveu não continuar hospedando o seu site. O meu patrão, se não gostar de alguma atitude minha, pode me mandar embora sem nenhuma explicação e nem por isso os outros vão dizer que eu fui censurado.
- Ele não foi injustiçado, simplesmente um contrato comercial foi rompido. Eu acredito, que financeiramente ele pode até faturar mais em um blog independente exibindo anúncios pagos.
Agora, o que me incomoda mais nessa situação, é o hábito que o Paulo Henrique tem de sair atirando sempre que deixa uma organização:
- Ele trabalhou na Globo por muitos anos, recebia seu salário e, pelo menos aparentemente, não tinha nenhuma intenção de sair. Bastou a Globo lhe demitir, que virou o exemplo para tudo de ruim que há na imprensa e um dos membros do PiG. Quando ele estava lá dentro, não achava isso ou estava aturando calado por causa do bom salário?
- No IG, eu nunca vi nenhuma manifestação dele contra o portal e seus acionistas. Depois que ele saiu, o portal e seus executivos ganharam apelidos pejorativos e passaram ser a encarnação do demônio.
Mas o Paulo Henrique ainda trabalha para a Record. Será que lá na Record não tem nada de errado? É correta a exploração que os "bispos" fazem dos miseráveis? É correto a IURD usar uma concessão pública para vender o seu "produto"? É correto a IURD patrocinar uma "chuva" de ações judiciais contra órgãos da impressa que a criticam? As finanças da IURD e suas coligadas são transparentes e parecem éticas? Está certo o "bispo" Macedo fazer a emissora produzir matéria encomendada como se fosse jornalística usando o Paulo Henrique como apresentador?
Talvez, se o Paulo Henrique se dispusesse a responder, ele dissesse: "Está tudo certo, não há nenhum problema com a Record."
Mas talvez, ele só se lembre de mencionar isso no dia que a Record o demitir e ele sair atirando com a sua metralhadora de conveniências.
Cuidado Paulo Henrique, pois com este hábito de atirar a esmo, você está gastando rapidamente todos os cartuchos de prestígio que acumulou durante vários anos e, um dia, os cartuchos acabam.
Eu enviei este texto para o portal do Paulo Henrique, mas, naturalmente, ele não foi publicado e nenhuma reposta me foi dada.