terça-feira, 25 de maio de 2010

Comunismo não funciona na prática (Parte II)

Continuando a análise do post anterior, onde eu fiz um breve apanhado da história do comunismo, eu vou falar do primeiro problema que surge para o comunismo funcionar na prática, que é a instauração do que Marx chamava de "a ditadura do proletariado":

A ditadura do proletariado é literalmente uma ditadura, mas é a ditadura burguesa de direita, virada de cabeça para baixo. Se na ditadura burguesa temos uma minoria governando sobre a imensa maioria da população (devido à sua influência econômica), no socialismo isso se inverte, ou seja, os trabalhadores assumem o poder.

Mas aí vem a primeira questão: Todos os trabalhadores estarão realmente no poder?

E ainda: Aqueles representantes dos trabalhadores que exercerão o comando da máquina pública e econômica, realmente irão trabalhar em prol daqueles que eles representam, sem colocar os próprios interesses em primeiro plano?

Como o regime é assumidamente uma ditadura e não é possível colocar toda a população no comando do país, algumas pessoas assumem o comando da máquina partidária, que é o centro de comando nos regimes comunistas, e passam a se autointitular "representantes do povo".

Invariavelmente, os grupos que assumiram o comando nos regimes comunistas conseguiram isso através da força bruta. Seja no momento em que a revolução assumiu o poder, seja posteriormente, em disputas internas entre correntes diferentes do partido. E para o grupo manter-se no poder, todos esses regimes foram conduzidos com mão de ferro.

Além da questão da disputa de poder entre as diferentes correntes comunistas, há ainda a repressão para evitar qualquer tentativa de restauração do capitalismo. E aqui existe um paradoxo, pois, se a ditadura representa a maioria, que são os trabalhadores, mesmo que esta maioria deseje a restauração do capitalismo, ela será reprimida.

O termo "democracia" no socialismo tem um conceito diferente e bem peculiar, pois, não significa democracia para todos. É democracia apenas para os trabalhadores, isso é segundo a teoria, para a imensa maioria, e ditadura para os antigos capitalistas, exploradores, oportunistas e mercenários. Ou seja, o regime é democrático desde que você esteja de acordo com ele.

Com isso, a ditadura do proletariado acaba abrindo possibilidades de perseguições políticas e injustiças ao tentar inibir tudo que é contra revolucionário, Mas afinal, quem define o que é contra revolucionário?

Contra revolucionário é aquele que está tentando restaurar o capitalismo ou é apenas aquele que começa a ganhar prestígio no partido e a ameaçar a posição do grupo de comando?

Assim, o quanto a autointitulação de representante do povo é verdade, vai depender de quem estiver exercendo o poder, pois, os representados não terão condições de se manifestarem contra aquilo que não estiverem de acordo.

Existem exemplos positivos de regimes que foram realmente voltados para o povo, como o regime cubano, por exemplo. Em Cuba, podemos concordar ou não com o regime político, mas é inegável que houve um avanço considerável nos indicadores sociais de um país que era extremamente pobre no período pré-revolucionário.

Porém, existem também exemplos terríveis, como o que ocorreu durante o governo do Khmer Vermelho no Camboja, onde houve um genocídio com milhões de vítimas, tendo como justificativa a implantação do regime.

Além de líderes que se beneficiaram pessoalmente das benesses do poder como qualquer ditador capitalista de uma república de bananas.

Como estamos lidando com pessoas, que apesar de uma ideologia comum, tem métodos e objetivos bastante distintos e como eles exercem o poder por meio de uma ditadura, não importando para isso se é de direita ou de esquerda, os resultados podem ser os mais diversos possíveis, muitas vezes o governo se afasta da ideologia comunista, comete abusos, expropria o estado e a população não consegue se opor. Em uma ditadura efetiva, de qualquer viés político, vale a vontade do grupo que está no poder, independente dele estar ou não representando a maioria.

Dessa forma, mesmo que a imensa maioria dos trabalhadores, que em tese é o grupo que está no poder, preferiram o capitalismo, não adianta, o regime permanecerá o mesmo, ou seja, o regime socialista pode se transformar em um caso de ditadura da minoria sobre a maioria. Como nós vimos nos países do leste Europeu no final na década de 1980, quando a população foi às ruas comemorar a queda dos regimes comunistas.

Esta é a primeira razão do insucesso das tentativas de implantar o comunismo na prática. Nos próximos posts eu analisarei outras razões.


1 Comentário:

Anônimo disse...

estou lendo...

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