quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Comunismo não funciona na prática (Parte IV)

Continuando o assunto do post anterior, outra questão que precisa ser levada em conta como motivo dos regimes comunistas não funcionarem na prática é a evolução histórica da sociedade.

O comunismo se tornou forte com a revolução industrial no final do século XIX, onde os trabalhadores eram fortemente explorados pelos donos do capital. O problema, é que mais de um século se passou, a sociedade evoluiu, houve uma explosão tecnológica, os trabalhadores passaram a ter um padrão de vida mais digno e as teorias comunistas permaneceram as mesmas, sempre fazendo uma divisão simplista entre exploradores e explorados.

É muito complicado ter que obrigatoriamente dividir a sociedade atual em apenas duas classes: capitalistas e trabalhadores. Hoje nós temos hoje uma realidade muito mais complexa onde os papeis por vezes se entrelaçam e não podem ser resumidos ao “senhor e escravo” de centenas de anos atrás.

Até hoje o único argumento dos comunistas é a "exploração das classes trabalhadoras" e a única solução é a "expropriação dos meios de produção".

Este raciocínio está completamente obsoleto. Ele fazia sentido no início da era industrial, onde se usava o trabalhador como uma ferramenta qualquer e não se reconheciam os direitos mais básicos do cidadão. Se observarmos nos dias de hoje os países capitalistas desenvolvidos, podemos constatar claramente que os trabalhadores "explorados" pelos capitalistas têm um padrão de vida muito superior ao que tiveram os trabalhadores que estavam "no poder" dos países socialistas no seu auge.

Nós estamos na era da sociedade da informação, o conhecimento vale muito mais que a força bruta do trabalhador. A separação entre capital e trabalho é muito mais fluida. Os trabalhadores também investem e os capitalistas também produzem. Muitas vezes um técnico especializado ou um administrador competente, recebem muito mais que um empresário bem sucedido. Eu particularmente prefiro não ser dono de nenhum meio de produção e ter um padrão de vida confortável, a ser "sócio" de todos os meios de produção do país, mas ter que esperar horas na fila para comprar apenas alimentação básica racionada.

Ressaltando que aqui eu estou falando de capitalismo de verdade e não dos arremedos mal acabados que temos na América Latina e na África com uma população enorme de indigentes. Estou falando de países como Japão, Alemanha, Estados Unidos e correlatos. Sendo que, mesmo alguns países que eram símbolo de exploração do trabalho há bem pouco tempo, como a Coreia do Sul e a Malásia, caminham a passos largos para entrar em um estágio superior, se já não entraram.

Podemos pensar em creditar a miséria na África e América Latina à exploração dessas regiões pelos países desenvolvidos e o desenvolvimento destes como consequência dessa exploração. Porém, explicar as mazelas dos países pobres apenas como resultado do imperialismo dos países desenvolvidos, é um raciocínio muito simplista. Grande parte das nossas mazelas são responsabilidades nossas mesmo. Basta verificar que existem exemplos de países na América do Sul que conseguiram avanços muito positivos em desenvolvimento humano, político e econômico, apesar do capitalismo, do imperialismo, etc. Vejam os casos do Chile e do Uruguai.

É claro que ainda existe muita gente vendendo apenas a sua força bruta em troca de dinheiro, mas, nas sociedades mais avançadas, a tendência é isso diminuir. Cada vez mais os processos produtivos, sejam para fabricar cadeiras, para plantar alimentos ou para limpar o chão, estão sendo automatizados e dependendo menos de mão de obra intensiva.

O processo é lento e muitos ficam de fora das boas oportunidades, mas, mesmo os trabalhadores braçais podem encontrar uma boa qualidade de vida, basta ver a quantidade de pessoas que preferiu fazer trabalho braçal nos Estados Unidos ou na Alemanha Ocidental a viver sob as benesses do socialismo cubano ou alemão oriental.

Não digo que o capitalismo é o sistema mais justo, mas, até hoje foi o que se mostrou viável na prática.

Toda a argumentação contra o capitalismo é baseada na mais valia. Eu concordo que sem mais valia não há capitalismo. Contudo, em minha opinião, a mais valia não é necessariamente uma coisa ruim. Quando uma pessoa pega o seu capital e aplica em um negócio, ela está assumindo o risco daquilo dar certo ou errado e o lucro é a remuneração que o capitalista recebe pelo risco que ele está assumindo. O trabalhador, independente de ganhar muito ou pouco, não está assumindo risco nenhum, se a empresa for à falência ele simplesmente vai trabalhar em outra empresa. Eu como trabalhador invisto parte do meu salário em ações de empresas, assim espero que elas deem lucro e remunerem o risco do capital que eu investi. Ou seja, em um capitalismo para valer, ocorre um círculo virtuoso que vai agregando riqueza ao sistema como um todo. É claro que nesse processo ocorrem injustiças, mas, o sistema como um todo tem a sua lógica.

Alguns comunistas alegam que, na verdade, os fracassos iniciais na implantação do regime eram esperados e que nós estamos apenas no início do processo de amadurecimento do comunismo. Rosa Luxemburgo em 1902 (antes de qualquer experiência socialista prática), já dizia que não era de se esperar que as primeiras tentativas de implantação do socialismo fossem bem-sucedidas. Ela argumentava que os processos históricos são longos e têm os seus recuos momentâneos. Sendo que o próprio capitalismo levou em torno de 300 anos para derrubar completamente o feudalismo.

O problema dessa argumentação, é que no momento não existe nenhum líder ou pensador sério e respeitado internacionalmente pensando em revolução comunista. Todos os representantes do comunismo atual são de segunda ou terceira linha, irrelevantes intelectualmente (vide Hugo Chavez e Evo Morales) e simplesmente continuam repetindo os discursos centenários de Marx, Lênin, Stalin, etc.

A sociedade evoluiu, a tecnologia mudou o mundo, as relações trabalhistas amadureceram, o padrão de vida dos trabalhadores melhorou, mas os comunistas continuam se baseando nos mesmos argumentos de uma época onde a máquina mais revolucionária era movida a vapor e os trabalhadores só podiam vender a sua força muscular.

Ou seja, para os capitalistas, o comunismo é passado, mas, para os comunistas ortodoxos que restaram, o comunismo ainda é, na verdade, o regime do futuro. Quem tem razão?

Posteriormente, eu analisarei outras razões que levaram o comunismo a não funcionar na prática.

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